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A Procedência dos escravizados de Itaboraí (século XVIII)

21/03/2015

Gilciano Menezes Costa

Fonte: Viagem Pitoresca através do Brasil

Em Itaboraí, a substituição da mão de obra indígena pelo escravizado negro africano ocorreu nas primeiras décadas do século XVIII [1].

Através de leituras realizadas em Livros de óbito de Itambi, foi possível constatar que, a partir de 1737, ocorreu uma brusca aceleração da frequência de óbitos de africanos recém chegados (“boçal”), sendo possível assim supor que antes desse período existia uma menor integração da região ao mercado atlântico [2].

Os escravizados que vieram para Itaboraí eram mencionados em sua grande maioria como Gentio da Guiné. Com menor expressão foram encontrados também escravizados de Nação Angola, seguidos, em menor quantidade, por escravizados de procedência Cassange e Benguela. De forma ainda mais inexpressiva, foram localizados os escravizados de Nação Congo e Monjolo [3].

A imagem presente neste texto, do pintor Johann Moritz Rugendas, demonstra alguns traços da fisionomia que os escravizados dessa procedência tiveram. [4] Além disso, contribui para visualizar a diversidade étnica existente entre os africanos que vieram para Itaboraí.

É essencial destacar que a Guiné representou um conjunto de portos, etnias e localidades que se abrigaram em um mesmo grupo identitário. Do “Gentio da Guiné” partiram africanos de diferentes pontos do território, encobrindo diferentes grupos étnicos. Assim a referência a um grupo de procedência não significa necessariamente a de um grupo étnico [5].

Os escravizados africanos trazidos para Itaboraí vieram da África Centro-ocidental. O que é reafirmado pelo fato de que indiscutivelmente a grande maioria dos cativos africanos, que foram desembarcados no porto do Rio de Janeiro, originava-se da região centro ocidental da África, particularmente de Angola, procedentes de portos, cidades e lugares como Luanda, Cabinda, Cassange, Benguela, entre outros. [6]
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Fontes e Bibliografia:

[1] COSTA, Gilciano Menezes. A escravidão em Itaboraí: uma vivência às margens do rio Macacu (1833-1875). Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de História, 2013. p. 82.
[2] FLORENTINO, Manolo Garcia; ENGEMANN, Carlos; ASSIS, Marcelo de. Das possibilidades de uma fonte múltipla: sociabilidade e mortalidade escrava nos registros de óbito da Freguesia de Itambi. RJ. 1720-1742. p. 16.
[3] Livro de batismo de escravos da Freguesia de Santo Antônio de Sá. (1761-1809).
[4] RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem Pitoresca através do Brasil. Biblioteca Nacional.
[5] SOARES, Mariza de Carvalho. Descobrindo a Guiné no Brasil Colonial. RIHGB.161 (407), abr./jun. 2000.
[6] FLORENTINO, Manolo Garcia. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio de Janeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
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Gilciano Menezes Costa é Doutorando em História Social da Cultura na UFF. Professor de História e Filosofia na Rede Estadual em Itaboraí e Professor de História na Rede municipal de Magé. É autor da Dissertação de Mestrado (UFF) intitulada "A escravidão em Itaboraí: Uma vivência às margens do Rio Macacu (1833-1875)". Disponível em: https://docs.wixstatic.com/ugd/5ada89_277b353622e44d018f55ecdb12aa561a.pdf

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